Por Sandra Tavares
Não é por ser portuguesa, mas acredito que um dos países mais fantásticos para passar o Natal e o Réveillon é Portugal.
E vocês perguntam… ah é?
Você já experimentou passar o ano no Brasil???
Ok, ok! Têm razão. Desculpem o pretensiosismo, mas o meu amor à terrinha é tão grande, tão grande que não consigo imaginar comemorar o Natal noutro lugar! Já a passagem do ano é outra coisa! Quem sabe em 2016 eu possa passar no Brasil ao lado a minha querida Luceth?
Mas antes me deixem explicar pPorquê vir para Portugal este Natal… e já agora a Passagem de Ano?
Por vários motivos.
Em primeiro lugar pelo clima.
A neves deixa-nos assim... umas verdadeiras crianças! |
Está um frio tão gostoso!!!
Adoro usar casacos de lã, luvas, gorros até me sentir o verdadeiro boneco dos pneus Michelin e nem me conseguir mexer! Obviamente que no litoral de Portugal não faz assim tanto frio mas no interior, em regiões como Bragança, Viseu e a Serra da Estrela as temperaturas descem abaixo de zero e pode até mesmo nevar!
Acreditem! Eu já vi nevar dezenas de vezes, já estive ao lado de neve com o dobro da minha altura, já fiquei com o meu carro atolado e nem assim eu deixo de ficar fascinada com a queda desses floquinhos brilhantes! Vocês sabiam que não existe um único floco de neve igual no mundo?? E alguns parecem verdadeiras obras de arte. A Natureza é maravilhosa!
Bem, eu garanto em primeira mão que não há nada como sair de casa para um frio gélido e depois voltar para o aconchego de uma lareira crepitante vendo a neve cair pela janela.
É das melhores sensações do mundo!
Outro dos motivos para vir passar este Natal a Portugal é pela gastronomia ímpar.
Uma mesa de Consoada só fica perfeita quando a comida praticamente está a cair pelas extremidades da mesa! |
Em Portugal come-se bem em qualquer altura do ano mas no Natal todos os sonhos de quem aprecia uma mesa farta se concretizam… em qualquer lugar! A noite de Natal é celebrada com uma farta ceia, conhecida em Portugal como Consoada e o fiel amigo – o bacalhau (quem mais?) – não pode faltar! A tradição dita que deve ser servido com couves e batatas cozidas, bem regadas com azeite da serra aromatizado com um pouco de alho, mas muitas pessoas apreciam mais o seu bacalhau assado no forno ou então envolto em natas ou gratinado no forno com crosta de broa (migalhas de um pão típico que varia muito de região para região). Tudo isto - conjugado com muitas outras iguarias portuguesas como o peru ou o cabrito assado no forno (que se pode consumir só depois da meia-noite), os bons vinhos e as sobremesas conventuais de Natal - são experiências sensoriais tão incomparáveis que ficam para sempre na memória! Mais que não seja pela sensação de enfartamento que se prolonga até bem depois da Passagem do Ano!
Uma das recordações mais emotivas que tenho da minha infância e adolescência é essa! Da mesa de Natal em casa da minha avó Rosa, onde a quantidade de comida era tanta, mas tanta que dava para alimentar em batalhão de soldados durante 15 dias! E ela não descansava enquanto não repetisse-mos pelos menos duas ou três vezes cada prato…. Parece que a estou a ouvir: “Anda! Come mais um bocadinho! Não está bom?” e eu dizia: “Ó vó mas já não consigo comer mais!” e, quando eu pensava que a tinha convencido da minha vontade, lá vinha ela com a panela e pimba! Mais uma pratada de bacalhau!
O tradicional Bolo Rei ou o Bolo Rainha (que é uma espécie de um pão doce com frutas cristalizadas muito semelhante com a Colomba Pascal) também não podem faltar, assim como o famozérrimo Vinho do Porto para finalizar as refeições em grande! Não existe uma única família em Portugal que neste dia não ofereça um cálice de Vinho do Porto! Você já imaginou?
Para o turista que vem a Portugal nesta época natalícia e que não tem família neste país, há a certeza de haver restaurantes e hotéis que proporcionam as ceias de natal e as passagens de ano tradicionais. Por isso certifique-se de que o seu programa de viagem contempla um hotel que tenha esta opção, já que nestas datas será muito difícil encontrar restaurantes abertos pois todo o pessoal estará passando o Natal com as suas famílias!
Pelas tradições.
Na noite do dia 24 de Dezembro, mais no interior de Portugal à meia noite todos se dirigem às igrejas para celebração da santa missa – aqui conhecida por Missa do Galo - em família! Na maioria dessas localidades, no átrio da igreja faz-se uma enorme fogueira - conhecido como madeiro - com os troncos e raízes das maiores árvores da região que ardem por dias a fio. Ali as pessoas se reúnem, se aquecem e os mais jovens e corajosos mostram a sua destreza correndo e saltando sobre os trocos a arder! Em muitas localidades das aldeias e vilas, as pessoas juntam-se para cantar pelas ruas as tradicionais músicas de Natal, recebendo em cada casa algumas moedas, bebidas quentes e muitas palavras de amor e fraternidade. Esta tradição dá pelo nome de “Cantar as Janeiras”, que são concretamente músicas que falam sobre o nascimento de Jesus e dão as boas vindas ao Novo Ano.
Em algumas localidades, sobretudo junto à fronteira com Espanha, a troca de prendas só é realizada no Dia de Reis (seguindo as indicações bíblicas das oferendas dos Reis Magos ao Menino Jesus), mas atualmente e em quase todos os lugares, a prenda de Natal é mesmo aberta no dia, à meia-noite em ponto, sob o olhar atento das figuras do presépio artisticamente colocadas junto da árvore de Natal ou junto à lareira devidamente enfeitada com ramos de azevinho, velas aromáticas e fitas coloridas e brilhantes.
A figura do Pai Natal é obviamente uma das mais queridas de todos, especialmente dos mais pequeninos que aguardam excitados mesmo que estejam mortos de sono o seu aparecimento pela lareira para deixar as tão cobiçadas prendas de Natal.
Uma das recordações mais carinhosas que possuo de um Natal passado na minha meninice foi, não a noite de Natal, mas a manhã seguinte quando ainda estremunhada, ao sair da cama e senti os meus pés pousarem em cima de um monte de presentes! Dei um tal grito que os meus pais se levantaram a correr para ver quem teria eventualmente partido uma perna! Bons tempos!
Não quero terminar este convite para passar o Natal em Portugal sem antes referir a hospitalidade das pessoas, as belezas naturais para visitar de norte a sul nos dias seguintes às festas e a atmosfera mágica que envolve todas as pessoas que, nesta quadra, esquecem as chatices do dia-a-dia e se deixam levar por sentimentos de amor e fraternidade, cumprimentando conhecidos e desconhecidos com um “Feliz Natal!”
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